MANUAL BÁSICO DE FLAUTA TRANSVERSAL
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Este trabalho tem como objetivo transmitir de maneira simples, informações para os que não conhecem a flauta transversal, os que conhecem um pouco e também como um complemento para os que já tocam.
Assim como os naipes de cordas e palhetas, a família das flautas é numerosa e cada modelo – transversal, barroca, andina, etc. – tem suas sub-espécies.
Porém, como a flauta transversal é a mais difundida, todo este trabalho será dedicado a ela, com as comparações que se fizerem necessárias.
O conteúdo deste manual, mesmo não sendo responsável direto pelo progresso do flautista, poderá ser sempre observado em paralelo aos métodos de ensino de flauta, abordando pontos de interesse como: história da flauta, características construtivas, tessitura, postura, técnicas de respiração, conservação, etc.
DEFINIÇÃO
A flauta é um aerofone pertencente à família das madeiras, de característica simples, tocada na posição horizontal ou vertical, soprando-se através de um furo e dedilhada ao longo de seu corpo.
O som das flautas, falando de um modo geral, é produzido quando um pequeno sopro é projetado contra uma aresta que divide este canal de ar. Uma parte do ar entra na flauta, outra se perde.
Nas flautas barrocas, esta divisão de ar acontece dentro da boquilha. Nas flautas transversais acontece fora do bocal, assim como nas flautas andinas. Existem modelos variados de flauta e todas elas têm a mesma característica aerofônica.
O sopro, sendo livre, produz uma vibração muito pequena, bem menor do que em outros instrumentos de sopro, caracterizando o seu timbre aberto.
O som da flauta, apesar de ser milenar, só foi bem aprimorado no sec. 19, com os bocais anatômicos e material apropriado, dando maior flexibilidade e maior poder de expressão.
Ao contrário dos instrumentos de palheta, onde o som resultante sai na campana, nas flautas o som é emitido exatamente no bocal.
Por sua versatilidade e boa adaptação no ambiente musical, a flauta transversal é um dos instrumentos que mais livremente navega pelos diversos gêneros musicais. Além das obras criadas para ela, existe uma infinidade de gravações de peças originais para outros instrumentos que são bem interpretadas na flauta.
UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DA FLAUTA
A verdadeira origem da flauta ainda está perdida no tempo. Não há registros de quem a inventou, nem a época certa em que surgiu.
Com base na história surgiram com os gregos, romanos e egípcios, em torno de 5000 a 7000 anos AC. Porém, descobertas recentes afirmam que existiam flautas fabricadas com ossos de animais extintos.
Com o crescimento da música barroca no século XVI, surgiram os modelos das flautas de Bisel (ou barroca), tocadas na posição vertical, de construção simples, somente contendo os furos.
As flautas foram também muito usadas pelos indígenas andinos, que criaram muitos modelos artesanais (quena, zampona, ocarina, flauta pastoril) e são fabricadas até hoje.
A flauta transversal que conhecemos, de metal, com chaves e sapatilhas, data de 1871, a partir de um aperfeiçoamento feito pelo pesquisador de instrumentos Theobald Boehm.
FAMÍLIAS DE FLAUTAS E AS SUB-ESPÉCIES
● A família das flautas transversais:
– Flautim ou Picollo
– Flauta soprano em sol
– Flauta de concerto (a mais comum)
– Flauta d´amour em lá ou si bemol.
– Flauta contralto em sol
– Flauta Baixo
– Flauta contra-alto
– Flauta contrabaixo
– Flauta sub contrabaixo
– Flauta duplo contrabaixo
– Flauta Hiper Baixo
● A família das flautas barrocas:
● Flautim ou Picollo – Pequena flauta que possui a mesma registração e seqüência da escala da flauta transversal, porém com uma freqüência de uma oitava acima.
O flautim, por sua freqüência aguda, também se destaca facilmente em solos de música erudita e popular. Pode, também, ser indicado para crianças, que quando chegarem à adolescência, podem trocar por uma flauta transversal.
Flautim
FLAUTA TRANSVERSAL
A Flauta transversal é a que mais se adapta ao conjunto sinfônico das orquestras. É dividida em três partes, com um comprimento total de 70 cm e diâmetro médio de dois cm.
– Flauta transversal fechada – Todas as chaves possuem sapatilhas fechadas. Indicada para os iniciantes.
Flauta Fechada
– Flauta transversal aberta ou vazada – Algumas chaves dedilhadas contêm um pequeno furo no centro da chave. Não deve ser indicada para iniciantes.
Flauta Aberta
– Flauta transversal com bocal em curva – Algumas marcas possuem no estojo, além do bocal convencional, o bocal em curva, recomendado para crianças, que quando chegam à adolescência, recomenda-se trocar pelo bocal convencional.
Bocal em curva
CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS
A flauta transversal é dividida em três partes: Bocal, corpo e pé.
Bocal: é onde fica o porta-lábios para acomodação da boca, e uma coroa móvel na extremidade do bocal para ajuste de afinação definitiva.
Corpo: possui diversas perfurações e um complexo sistema de chaves, sendo que a maioria é dedilhada e outras são secundárias.
O Pé é uma extensão do corpo contendo três ou quatro teclas. Suas chaves são acionadas apenas pelo dedo mínimo direito. Normalmente existem dois tipos: os que terminam no dó e os que terminam no si, caracterizado pelo acréscimo de uma chave.
MONTAGEM
Mantenha bem limpas as juntas de encaixe dos tubos (pode-se usar álcool). NÃO USAR
GRAXA, VASELINA, SEBO ou similar.
Encaixa-se o bocal no corpo, com movimentos circulares, segurando o corpo pela marca da flauta. NUNCA SEGURE PELO MECANISMO. Ao encaixar, o furo do porta-lábios deve estar alinhado com as teclas do corpo. Este alinhamento deve ser conferido olhando-se ao longo do bocal e do corpo.
Montagem bocal / corpo
O pé é encaixado no corpo pela outra extremidade, com movimentos circulares, com o mesmo cuidado de nunca segurar pelo mecanismo. Ao encaixar o pé, o eixo de suas chaves deve estar alinhado com o centro das teclas do corpo.
Montagem corpo / pé
Se as partes encaixadas estiverem com um pouco de folga, recomenda-se passar um pouco de parafina em um dos encaixes, para haver retenção e evitar vazamentos de ar.
Se os encaixes apresentarem muita folga, não se deve colocar materiais vedantes. Procure um especialista.
Se as partes encaixadas estiverem muito justas, devem ser lixadas com lixa fina para metais nº 600, e em seguida aplicada a parafina.
EMBOCADURA
Apesar de aparentemente fácil, a embocadura da flauta requer prática especial para se obter uma boa sonoridade. Desde o início do sopro, o aprendiz deve saber o posicionamento correto da boca no porta-lábios, para que se acostume com a posição.
O aluno, aprendendo de forma errada, não consegue um som puro. Ou, quando consegue soprar, não tem fôlego para tocar notas sucessivas e completar um fraseado. Uma vez que se acostumou de forma errada, dificilmente consegue corrigir a embocadura.
A orientação é simples, mas deve ser bem observada:
1. O porta-lábios é oval e tem um tamanho próximo ao de nossas bocas. Observando que o furo é fora de centro em relação ao porta-lábios, deve-se apoiar a curva do queixo na área maior arredondada, fechando uma quarta parte do furo.
2. Com a boca apoiada corretamente, o flautista deve soprar esticando e pressionando levemente os lábios, conforme a ilustração seguinte.
Este pequeno sopro deve atingir exatamente a aresta oposta do furo do porta-lábios.
O som acontece quando este pequeno canal de ar se divide ao atingir a parte oposta do furo. Metade do ar entra na flauta e outra metade escapa. Quanto melhor direcionado este canal de ar, melhor será a qualidade do som e mais economia de ar o flautista terá para executar uma frase.
Em resumo…
O apoio do queixo no bocal serve apenas para manter a direção do sopro na aresta oposta
A qualidade do som sempre melhora com o estudo, mas o correto posicionamento da boca no porta-lábios deve ser observado no início.
Ao executar notas destacadas, o flautista deve fazer golpes de língua pronunciando a sílaba tu. O golpe de língua nada mais é do que uma pequena batida da língua um pouco acima dos dentes superiores.
AFINAÇÃO
A flauta transversal possui dois pontos de afinação que pertencem ao bocal:
1. Na tampa ou coroa, que fica próxima do porta-lábios; esta tampa é rosqueada num sistema de vedação com cortiça e raramente deve ser manuseada; porém o flautista deve conferir periodicamente se a tampa não sofreu deslocamento, comprometendo a afinação.
Para isto usa-se a vareta de limpeza, que possui um entalhe próximo de uma extremidade. Coloca-se a ponta da vareta com o entalhe por dentro do bocal até tocar o sistema de vedação. Teoricamente, esta marca deve estar no centro do furo do bocal.
Porém, a afinação depende muito da forma de soprar. Com a ajuda de um diapasão ou afinador eletrônico, a posição do sistema de vedação pode ser corrigida, movimentando-se o parafuso da tampa.
Afinação através da coroa
2. No encaixe do bocal com o corpo, que é a afinação mais comum.
Assim como a maioria dos instrumentos de sopro, pode ser deslocado para se adequar aos demais instrumentos da orquestra. Se a afinação estiver mais baixa que os demais, fechar. Se estiver mais alta, abrir.
Antes de afinar o instrumento o músico deve prestar atenção no alinhamento do bocal em relação ao corpo (furo do bocal alinhado com o centro das chaves). Um pequeno deslocamento fora desse alinhamento compromete a afinação.
TESSITURA
A flauta transversal possui uma extensão musical de três oitavas completas a partir do Dó. Há recursos ainda para o ré, mi, fá e sol da quarta oitava. A seguir, em notas naturais, uma comparação da tessitura da flauta à de outros instrumentos sinfônicos:
RESPIRAÇÃO
Como vimos no item de embocadura, o sopro da flauta é livre, com pouca resistência ao expelir o ar. Por isso, deve ser administrado ao executar uma frase.
O processo de aspiração e expelimento do ar é sempre feito pelo diafragma, que é um músculo localizado entre a barriga e o peitoral e funciona como um êmbolo que puxa o ar para dentro dos pulmões.
O diafragma é muito importante para a respiração musical. Se o músico precisar absorver uma quantidade de ar num intervalo muito curto, basta abrir a boca e projetar bruscamente a barriga para frente. O ar entrará automaticamente pela boca numa velocidade maior do que o normal.
Ao soprar, o expelimento deve ser moderado, dependendo do tamanho da frase a ser executada.
É comum os iniciantes sentirem tontura na iniciação ao sopro. Isso acontece por insuficiência de oxigenação do cérebro durante o sopro. Com o exercício aeróbico exigido pela flauta, em pouco tempo a circulação melhora e as tonturas desaparecem.
POSTURA
A flauta deve ser suspensa à direita do flautista, com uma leve inclinação.
Os dedos da mão direita devem ser posicionados sobre as teclas da extremidade oposta, de forma natural, com a ponta do polegar sustentando a flauta por baixo.
A mão esquerda deve ser posicionada nas teclas mais próximas do bocal, em posição não muito natural, pois a base do dedo indicador deve pressionar a flauta contra a boca.
A sustentação da flauta se dá basicamente por três pontos:
- Na embocadura
- Pelo dedo indicador esquerdo
- Pelo polegar direito
A cabeça deve estar sempre em posição perpendicular com a flauta. Se o flautista precisar abaixar um pouco a flauta, por falta de espaço à direita, a cabeça deve acompanhar este movimento.
Ao tocar sentado, o flautista deve apoiar toda a coluna no encosto do assento, com os joelhos afastados, para facilitar a respiração.
NA COMPRA DA FLAUTA
Se o candidato for criança, é recomendável comprar uma flauta com o bocal opcional em curva, para alcance das mãos. Pode-se optar também pelo flautim (Picollo), uma vez que tem o bocal e posição das chaves iguais ao da flauta transversal, mas numa proporção menor.
Também o candidato não deve iniciar com uma flauta profissional (chaves com um pequeno furo), pois esta requer um fechamento exato dos furos.
Na compra de uma flauta transversal, é bom estar junto com um flautista experiente, para que toque um pouco e verifique alguns detalhes como: qualidade das sapatilhas, fechamento simultâneo das chaves, boa articulação, pressão moderada nas teclas, sonoridade e execução completa da escala.
Existem muitas marcas de flauta recomendadas para iniciantes, porém por questões de durabilidade e desgaste reduzido do mecanismo recomendam-se marcas reconhecidas (Yamaha, Armstrong, Gemeinhard, Eagle, Júpiter, Conductor).
Para os que atingiram melhores níveis, existem as flautas handmade, cuja produção é individual e a maioria delas feita por encomenda. Destas, podemos citar: Muramatsu, Myasawa, Sankyo, Haynes, Brannencooper, Altus, Powell, e ainda as flautas da linha Yamaha handmade.
CUIDADOS BÁSICOS
Sempre após tocar, a flauta deve ser limpa pelo lado de fora com uma flanela e, com outra montada na vareta, para limpeza interna; ao limpar o interior do bocal tomar o cuidado de não bater a vareta na coroa de afinação.
Periodicamente, limpar a flauta com um pano levemente umedecido, para remover oleosidade e acidez das mãos, seguido de uma flanela seca.
Sempre, antes de tocar, é recomendável fazer uma higiene bucal. Se não for possível fazer a higiene, pode-se fazer um enxágüe bucal.
Quando a flauta é soprada, normalmente a saliva percorre todo o seu comprimento. Se a saliva contiver açúcares e resquícios de alimentos, quando atinge a sapatilha, cria aderência com o furo, provocando pequenos ruídos (aderência), reduzindo o seu tempo de vida útil.
Para limpeza das sapatilhas e eliminação dos ruídos usa-se papel de seda. Proceder da seguinte forma:
- Cortar uma tira de papel na largura da chave e comprimento de até um palmo.
- Colocar a tira de papel entre a sapatilha e o furo, fechar a tecla com leve pressão (02 vezes).
- Após a limpeza de cada sapatilha, cortar a parte usada da tira.
Repetindo: ao montar e desmontar a flauta, NUNCA segure pelas chaves.
As sapatilhas mais comuns são fabricadas em feltro trançado, revestido de uma membrana de origem animal (baudruche) muito frágil. Quando bem cuidadas, podem durar de 5 a 10 anos.
Após este tempo, devido à variação de umidade, aparecem rachaduras e vazamentos. Devem, portanto, ser trocadas por especialistas.
Sapatilhas
Em resumo…
Quando não estiver tocando, durante os intervalos:
Coloque a flauta sobre uma superfície plana, com o mecanismo voltado para cima.
Não deixe uma ponta da flauta para fora da superfície, onde um casaco ou bolsa poderá enganchar.
Não deixe a flauta sobre CADEIRAS, POLTRONAS, SOFÁS ou CAMAS (a maioria das pessoas vê a cadeira, sofá ou cama e se atira com vontade), a menos que você tenha certeza de que só você irá sentar.
Quando terminar de tocar:
Enxugue por dentro, com o auxílio da varinha e de um pano bem absorvente (o melhor é
um pedaço de fralda de 25×25 cm aproximadamente). Enfie por um lado e tire pelo outro
sempre torcendo NO MESMO SENTIDO.
Passe um pano macio por fora, DE LEVE, cuidando para não esfregar nas
sapatilhas nem agarrar nos mecanismos.
GUARDE A FLAUTA NO ESTOJO, observando a posição original das peças.
AJUSTES DAS CHAVES
Na flauta, assim como nos instrumentos de palheta, existem as teclas que são dedilhadas e outras que são acionadas simultaneamente com as dedilhadas. Com o passar do tempo, o fechamento simultâneo das chaves pode variar, por diferenças de temperatura, ou acidentalmente.
O flautista deve sempre observar se as teclas simultâneas estão fechando corretamente. Se não estiverem, percebe-se quando não há nitidez na nota correspondente ou visualmente. Há duas maneiras de se corrigir:
1. Através de pequeno parafuso que fica entre as duas teclas.
Parafuso
2. Através dos calços de cortiça (ou feltro). Se a espessura do calço estiver errada, deve ser trocada.
Para regulagem dos parafusos o flautista pode, com uma pequena chave adequada, fazer a regulagem. No caso de reposição de calços e cortiças recomenda-se procurar um especialista.
Se houver algum problema mais sério…
Não tente consertar você mesmo. Procure a orientação de um flautista mais experiente.
Procure um técnico competente e de confiança. Não recorra a “curiosos”. Um reparo
mal feito pode piorar o problema e acaba saindo mais caro.